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Para os fãs de música pop que vieram ao mundo entre o fim da década de 1950 e o começo da de 1970, Michael Jackson representou aquilo que os Beatles significaram para a geração de dez anos antes. O jornalista americano Nelson George é um representante da geração Michael Jackson. Nascido em 1957, um ano antes do astro, ele cresceu ao som do Jackson 5 e viu sua carreira de crítico e especialista em música negra deslanchar ao mesmo tempo em que acompanhava o crescimento do cantor rumo ao superestrelato.
No livro Thriller — A vida e a música de Michael Jackson, recém-lançado no Brasil pela
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"Nós, americanos, temos por hábito culpar os pais por tudo. Joe é, certamente, uma vítima". diz o autor, em entrevista ao jornal O Globo por e-mail. "Ele não é um cara simpático, não tem charme nem habilidade para lidar com a mídia. Nunca foi capaz de explicar por que Michael e seus irmãos foram criados daquela forma. Joe começou a vida como metalúrgico, em Gary, Indiana, e levou esse estilo rude quando foi para Hollywood."
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Para George, Joe Jackson foi responsável por ensinar aos filhos — principalmente Michael — a ética do trabalho, ainda que com métodos questionáveis. Segundo o autor, graças ao pai, o cantor aprendeu que, para triunfar em qualquer profissão, é preciso trabalhar duro. George enxerga a mesma obstinação em outra estrela contemporânea: "Assim como Michael, Beyoncé possui a mesma ética do trabalho e a compreensão do que é compor canções que se tornam hinos. Ela pensa grande e entrega com grande precisão. Ninguém será como Michael Jackson, mas a visão global de Beyoncé é bem impressionante."
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"A interpretação padrão é de que as fantasias seriam uma volta à infância. Mas acho que os uniformes de líder de banda marcial que Michael usava, uma conexão mais musical do que militar, serviam, em parte, para ligá-lo aos Beatles", interpreta. "Se ele se pretendia o Rei do Pop, estava se pondo em competição com o maior grupo de todos os tempos."
A vida de Michael Jackson daria um bom thriller. Além de uma trilha sonora eletrizante, drama, suspense, reviravoltas inesperadas, escândalos e uma pitada de terror — a metamorfose física do cantor ao longo da carreira — fizeram parte dessa trama de cinco décadas. George especula o que o cantor estaria fazendo hoje, caso tivesse sobrevivido: "Estaria trabalhando com os principais jovens produtores e compositores do planeta. Ele passou os últimos anos da sua vida fazendo exatamente isso."
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Em visitas ao Brasil — já esteve no Rio, em São Paulo e em Salvador — George tornou-se fã da música brasileira. "Amo Carlinhos Brown, que vi nos Estados Unidos. Escutei compilações de funk carioca que o DJ Diplo lançou nos Estados Unidos e gostei muito. Também gostei de pagode, que ouvi no Rio, em 1995. Fui a Salvador no verão passado e escutei algumas das escolas de samba mais incríveis em ação. Não há no mundo som mais poderoso do que as maciças baterias do Brasil tocando polirritmias em uníssono."
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